terça-feira, 10 de maio de 2011

E ao abrir as cortinas, a magia do espetáculo é ofuscada pela verdade

Há quem diga que a televisão educa, mas engana. Entretanto, é indiscutível que ela fascina uma multidão de pessoas. Por sua vez, o entretenimento consegue agradar a grande maioria, até mesmo àqueles utilizam a televisão apenas para saciar a sede de informações e de conhecimento.
Há vários anos, um programa televisivo consegue atrair a atenção dos telespectadores, utilizando-se da junção destes dois ingredientes, informação e entretenimento, que ao mesmo tempo em que encantam, educam. O Programa do Jô é não só um prato cheio para os amantes de uma boa entrevista descontraída, como também para os sedentos por informação.
Há mais de meio século na área, e com um prestígio admirável, José Eugênio Soares, o Jô Soares, tem o dom de prender a atenção dos telespectadores com entrevistas produtivas e trocadilhos rápidos, que por vezes são alternados com piadas curtas raciocinadas com uma velocidade formidável. Uma engasgada do entrevistado ou uma “bola fora”, desencadeia um comentário rapidamente criado pelo apresentador, de forma engraçada e criativa. A grosso modo, é uma “língua afiadíssima”.
Porém, quando o programa é presenciado por todos os ângulos, diferentemente dos enquadramentos aos quais os telespectadores ficam limitados, o espetáculo perde um pouco do brilhantismo, criado a partir das imagens vistas na televisão.
A realidade é outra. Não que isso desmereça ou apague a beleza do Programa, mas a ofusca parcialmente, de maneira que quem presencia passa conhecer o que realmente é verdade. O que antes parecia um estúdio enorme passa ser pequeno, da mesma maneira pela qual o apresentador, com pique de menino, aparenta ter uma estatura inferior à vista na telinha.
Assistentes, produtores, auxiliares, falando e gesticulando, mantendo a ordem e câmeras estrategicamente posicionadas, deixam tudo organizado e o mais próximo possível do perfeito. Os bastidores realmente são surpreendentes, educativos e incitantes. Mas, de certa forma, o faz ver o Programa (que poderia ser qualquer outro) com outros olhos, desfalecendo aquele olhar, embora peculiar, ligeiramente ludibriado (no bom sentido, claro).

Texto de Jorge Pontes