domingo, 17 de outubro de 2010

Discurso de Oração (Jornalismo 2009)

Discurso de Oração da 12ª turma de Jornalismo - UNIFEV 2009

Senhoras e senhores, autoridades, familiares, amigos, colegas, muito boa noite.
Vivemos hoje uma situação confusa. É notório e plenamente visível o fato de não nos contermos de tamanha alegria, ao recebemos o diploma de jornalista, afinal, nunca esse diploma foi tão contestado, tanto no viés prático quanto no jurídico.
Ao mesmo tempo em que estamos celebrando aqui, a conquista da nossa profissão, nos questionamos: que conquista é essa?
A possibilidade de divulgar a informação já é algo que foge completamente ao domínio do jornalista. Um garoto de 15 anos, especialista em algum assunto, pode publicar num blog e pode ter mais audiência que uma coluna de um jornal de pequena circulação.
Enquanto dedicávamos enormes esforços para concluir nosso curso, em algum apartamento ao lado, uma menina que jamais sentou num banco universitário poderia estar publicando as últimas informações sobre moda, demonstrando um conhecimento que, às vezes, o melhor jornalista do assunto não teria.
Enquanto alguns de nós passamos a noite inteira na redação atualizando tabelas, divulgando noticias de plantão, um rapaz pode estar na rua, fazendo uma reportagem sobre indigentes, que será citada por todos os professores do curso de Jornalismo. Os mesmos que dirão com um pouco de orgulho e um tanto de respeito: “viram só, ele não precisou de diploma”.
Eis que nosso diploma hoje se tornou um debate que tomou as ruas, que chegou ao congresso, que paira às vezes no crivo dos maiores magistrados do país. A decisão de acabar com a obrigatoriedade do diploma de Jornalismo pode ser tomada por pessoas que nunca leram o teórico da profissão, e que nunca fizeram uma grande reportagem.
Vivemos uma época em que o conhecimento acadêmico jornalístico está sendo colocado em oposição ao conhecimento da vida. Aquele que já atua por mérito próprio, sem o diploma, que deveria ser uma louvável exceção, é colocado como base para minimizar o trabalho desenvolvido numa faculdade.
Não pegar num caderno para estudar jornalismo é motivo de orgulho para alguns. Pois mais vale encher a cesta de livros e passear no parque ao invés de estar em sala de aula.
Diante de tudo isso, vale a pena se formar em jornalismo?
Poderia dissertar sobre o tema, mas como estamos nos formando profissionais, vamos usar o método jornalístico, faço perguntas a cada um de vocês: “Como assim não vale a pena?”
Aqueles momentos de angustia vendo a filha estudando as mais complicadas formas de geometria analítica para passar no vestibular.
Aquelas risadas na mesa de jantar quando o calouro despendia orgulhoso ao aprender a teoria da pirâmide invertida, o quanto aquele novo professor era genial.
Aquele ombro amigo que vocês deram quando, no primeiro semestre, ele rodou numa DP de Teoria da Comunicação e disse que não queria mais fazer o curso.
A tensão pela falta de um projeto, a tensão pelas noites em claro fazendo monografia, a hipertensão momentos antes de apresentar a banca, a alegria da aprovação final.
Porque tudo isso, vocês país, familiares, esposas, filhos, amigos, namorados, passaram nos últimos anos!
Ao final de tudo isso, da para dizer que não valeu a pena!??
Por outro lado, para nós, talvez, um dia, esse momento que vivemos agora assuma uma naturalidade que jamais deveria existir. Um dia nós poderemos estar chefe de uma redação e contratando aquela menina que não é jornalista, escreve bem e é bonitinha.
Outro dia poderemos estar por trás de uma mesa de sala de aula, ai mesmo na comunicação e dizendo que jornalismo é melhor sem diploma.
Só que aquela menina bonitinha, recém chegada à redação do jornal, aquele vizinho adolescente que escreve blog, aquele rapaz que presta um maravilhoso serviço social ao ouvir os indigentes, nenhum desses passou por esses momentos de angustias e alegrias.
É disso que é feita uma faculdade. Não apenas de cadeiras obrigatórias eletivas, professores competentes ou não. Não apenas de equipamentos, salas bonitas, livros novos ou ar condicionado.
A faculdade também é toda maravilhosa experiência de vida que adquirimos, desde o primeiro risco de tinta na testa, até o canudo na mão.
Senhoras e senhores, o jornalismo de Carlos Chagas, de Nelson Rodrigues, de Clarice Lispector, de Caco Barcelos, de Boris Casoi, todo esse jornalismo é feito da mesma essência de vida: a essência da experiência!
O talento de escrever a sensação de viver para o público que vive tudo bem diferente.
Todos nós aqui vivemos intensamente o jornalismo nos últimos anos, por isso estamos compartilhando com vocês essa conquista.
Esse diploma é para todos aqueles que acreditam que ser jornalista vale a pena.
Amanhã, podemos contar as histórias de vocês, mas hoje, em edição extraordinária, estamos escrevendo a nossa!

Muito Obrigado!

Texto e Discurso: Diego Hurtado